sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Condicionalmente

- Você não tinha o direito de ter dito isso...
- Direito? Por acaso isso agora é uma democracia? Desde quando temos direitos aqui? E fazer o que você fez, era um direito também?
- Isso não vem ao caso, veja bem...
- Ah, "isso não vem ao caso". Certo. Sabe o que vem ao caso? A porta da rua.
- Meu amor! Não precisamos chegar a este ponto!
- E o que você queria que eu fizesse? Deixasse você ficar aqui, assim, depois de tudo que aconteceu?
- Você me pressiona. Você me sufoca. Como quer resolver as coisas desse jeito?
- Eu não quero resolver nada.
- Ah, não?!
- Não.
- Então quer dizer que eu posso pegar minhas coisas e ir embora?
- Sim.
- Certeza?
- Ah, vá a merda! Já disse que sim.
- Acontece que eu te conheço.
- E daí?
- E daí que eu sei que você virá atrás de mim logo pela manhã.
- Você não me conhece.
- Não? Não vai fazer isso?
- Nunca.
- Então tá.
 (...)

- Não leve meus livros! E muito menos o meu cd do Bob Dylan.
- Não estou levando nenhum livro. Já li todos. E o cd do Bob Dylan é meu.
- Você me deu de presente!
- Era para nós dois!
- Presente do dia dos namorados, pra nós dois?
- Presente do dia dos namorados, para ficar na nossa casa, na nossa estante.
- Então é meu também!
- Foi comprado com o meu dinheiro, é meu. Vou levá-lo.
- Você me dá nojo.
- Você é que me dá nojo. Deveria tomar banho mais vezes ao dia.
- Ontem  a noite você não reclamou. Muito pelo contrário.
- É o costume...
- É costume você beijar meu corpo inteiro por vinte minutos, mesmo não estando limpo o suficiente?
- É que eu gosto das formas dele.
- Gosta das formas mas não gosta do cheiro?
- Eu gosto do cheiro. Adoro o cheiro. Não vivo sem esse cheiro.
- Então por que disse que tinha nojo de mim?
- Porque eu queria te ver com raiva.
- Você se sente bem me deixando com raiva?
- Não.
- Então por que quis me deixar com raiva?
- Porque você havia me deixado com raiva primeiro.
- Então foi só mais uma das suas vingancinhas estúpidas?
- Talvez.
- Você ainda quer ir embora?
- Não.
- Eu também não quero que você vá.
- Por quê?
- Porque eu quero ficar com o meu cd do Bob Dylan.
- O cd é meu.
- Tá. Mas não vá, por favor.
- Tá vendo... eu disse que te conhecia.
- Conhece nada.  Ainda não é de manhã.
- Mas você quer que eu fique.
- Sim.
- Por quê? Me perdoa, então?
- Não. É que eu também gosto do cheiro do teu corpo.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Uma historinha antiga

As promessas foram muitas. E, quando menos esperavam, Abril já surgia por entre as nuvens. Ela havia se preparado desde o dia anterior. Estava ansiosa como nunca. Ele já estava a caminho, devaneando sobre árvores, ventos e beijos. Era domingo, pela manhã, como tinha que ser. A música boa pulsava em suas veias. Ela abriu a porta, desceu as escadas, foi até a rua para esperá-lo. Nada. Sentou na calçada e respirou a brisa de outono que começava a dançar pela cidade. Nada.

O sol estava quente àquela altura, e suas bochechas, antes vermelhas de ansiedade, ardiam entre medo e calor. Lá pelas tantas, o sol resolveu dar trégua e seguir seu caminho. Desceu pelas folhas das árvores e foi desaparecendo aos poucos no horizonte vermelho. O céu se iluminou, lindo como sempre, e ela tremeu quando lembrou que gostaria de estar ali com ele, brigando sobre qual pôr-do-sol era o mais bonito (o mais vermelho ou o mais roseado?). "Pelo menos ainda é domingo", pensou ela. A luz deu lugar às sombras, e logo as estrelas começaram a aparecer. A lua não estava bonita. Era a lua de empre. Exceto que, talvez, parecia uma boquinha brilhante, sorrindo para ela, tranquilizando-a. Talvez.

O calor que havia mais cedo ainda a mantia quente. As pessoas foram chegando em casa. Os carros foram estacionando. Os barulhos foram diminuindo. Só havia agora uma lua sorridente, estrelas piscantes e uma menina triste. Uma dúvida a fez se revirar na calçada. Mudou de posição e esticou as pernas, pensante. Entraria em casa e teria a certeza de que ficaria, enfim, sozinha? Ou ficaria ali, esperando, se alimentando de uma esperança tênue? "Ele prometeu", disse ela, acalentando a si mesma. "Ele prometeu".

the lights are shining bright!

Ela esperou a noite inteira. A madrugada inteira. A manhã do dia seguinte inteira. E reviveu tudo de novo. A brisa de outono, o sol forte, o medo, o sol descendo por entre as árvores, o escuro, a lua, as dúvidas, a solidão. E, quando a esperança parecia querer se esvair para sempre, ela viu. Enxergou, de relance, um rapaz alto e bonito que andava sem rumo, lá do outro lado da rua."É ele", pensou ela. Levantou rápido. Não conseguia mais sorrir. Só um sentimento tomava conta dela, e este sentimento, com certeza, não era a felicidade. Tampouco o medo. Ela havia se enchido de fé. E foi até ele, serena, segura.

Ele parecia murmurar algumas palavrinhas doces, mas sem sentido algum. Não percebeu que a menina com que sonhou durante tanto tempo estava quase o abraçando agora. Ela se aproximou, com uma suavidade que, sabiam os dois, não era dela. Não era suave. Mas estava. Estava como se sempre soubesse como ser suave. E o abraçou por trás, recostando sua cabeça no ombro dele. Sem se mexer, sem ao menos vê-la, ele soube que era ela. Fechou os olhos e sentiu. Não havia necessidade de olhar, de falar, de pensar. Só era preciso sentir. E eles se sentiram. Não fisicamente, mas espiritualmente. Sentiram suas almas se tocarem, sorrirem e se abraçarem. Seus corpos eram meros espectadores do espetáculo maravilhoso que acontecia dentro deles, fora deles, em todo o lugar. O mundo não existia mais. Naquele dia, naquela cidade, só havia uma pessoa: uma metade cheia de fé, outra metade cheia de luz.

Cansei

Eu sou maluca. Sou inquieta. Sou chata. Sou crítica. Sou complicada. Sou implicante. Sou desapegada. Sou insone. Sou auto-destrutiva. Sou possessiva. Sou ciumenta.
Eu odeio todo mundo. Eu não ligo para os sentimentos de ninguém. Egoísmo é meu sobrenome.
Eu sempre fui assim, acho. E não importa quantas vezes tentei mudar, todas elas foram em vão. Não quero mudar mais. Se eu mudar, será pelos outros, e não por mim. Porque eu tô bem assim. Mas já que não estou bem para os outros, tudo bem, me afasto. Não é difícil. Eu simplesmente cansei de querer agradar, cansei de criar expectativas, cansei de esperar por coisas que nunca acontecerão.
E não culpo ninguém, por favor. A culpa é toda minha. E vou pagar por ela. Enfim...

Nobody is waiting for me on the other side.

Fodam-se.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Precisa-se de novos amigos

Eu cansei de certas coisinhas, sabe? Não dela, obviamente, nunca me importei com ela. Depois do episódio do último encontro, então, menos ainda... mas sabe o quê? O chato é que os meus amigos são os amigos dela. Com uma pequena diferença: eles são os meus únicos amigos e só uns dos amigos dela. O que dá aquela sensação meio óbvia de que eu tenho muito mais a perder. Ou não.
Mas assim... há tempos venho pensando sobre meus amigos. E hoje chego a drástica conclusão de que, felizmente ou não, só me restam dois deles. Dois que amo demais e tenho certeza que me amam igual. O chato, mais uma vez, é saber que há outros amigos na vida deles que provavelmente são mais importantes que eu. Não sei, talvez a reciprocidade do sentimento já me baste. E então, quando preciso de um amigo, é atrás deles que vou. Mas e quando eles precisarem de um amigo, é atrás de mim que virão? Pensar sobre isso é chato pra caralho. Desânimo total.
E eu sempre quis ter uma melhor amiga. Daquelas bem próximas mesmo, de fazer tudo junto, e saber tudo da vida, falar besteiras de mulher... o mais próximo de uma melhor amiga de verdade que encontrei, não era mulher. Ah, "mais próximo" é indelicadeza minha, porque um foi e o outro é, sim, um amigo de verdade! Acontece que, inevitavelmente, esses amigos se tornaram meus namorados. Ou vice-versa. O primeiro eu perdi, com certeza... eu tento puxar assunto, tento ajudar, mas não flui. Entendo que deve ser difícil pra ele, e não sei por quanto tempo continuará sendo assim. Então, já foi. Perdi.
O segundo (e último, se Deus quiser), é sem palavras de tão incrível! Eu posso conversar sobre tudo e todos, há qualquer momento, em qualquer lugar... perfeito. Só que ele é muito mais que um amigo. Ele é o cara com quem eu quero passar todos os dias da minha vida. Tenho um orgulho enorme de dizer "O meu melhor amigo é o meu namorado!".
É... pensando bem, talvez eu esteja exagerando. Quem é que tem a oportunidade de ter o namorado como um companheiro pra vida, acima de tudo? É tão raro. Eu realmente deveria ficar feliz com isso... ter ele e ter os meus melhores amigos. Putz. É incrível como é só começar a pensar nele que toda a minha perspectiva de vida muda. É isso. Tenho um grande melhor amigo. Tenho dois melhores amigos. Tenho mais uma penca de bons amigos. É suficiente. Além do mais, a vida tá só começando... muita gente nova ainda está pra chegar! ;)