terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Uma historinha antiga

As promessas foram muitas. E, quando menos esperavam, Abril já surgia por entre as nuvens. Ela havia se preparado desde o dia anterior. Estava ansiosa como nunca. Ele já estava a caminho, devaneando sobre árvores, ventos e beijos. Era domingo, pela manhã, como tinha que ser. A música boa pulsava em suas veias. Ela abriu a porta, desceu as escadas, foi até a rua para esperá-lo. Nada. Sentou na calçada e respirou a brisa de outono que começava a dançar pela cidade. Nada.

O sol estava quente àquela altura, e suas bochechas, antes vermelhas de ansiedade, ardiam entre medo e calor. Lá pelas tantas, o sol resolveu dar trégua e seguir seu caminho. Desceu pelas folhas das árvores e foi desaparecendo aos poucos no horizonte vermelho. O céu se iluminou, lindo como sempre, e ela tremeu quando lembrou que gostaria de estar ali com ele, brigando sobre qual pôr-do-sol era o mais bonito (o mais vermelho ou o mais roseado?). "Pelo menos ainda é domingo", pensou ela. A luz deu lugar às sombras, e logo as estrelas começaram a aparecer. A lua não estava bonita. Era a lua de empre. Exceto que, talvez, parecia uma boquinha brilhante, sorrindo para ela, tranquilizando-a. Talvez.

O calor que havia mais cedo ainda a mantia quente. As pessoas foram chegando em casa. Os carros foram estacionando. Os barulhos foram diminuindo. Só havia agora uma lua sorridente, estrelas piscantes e uma menina triste. Uma dúvida a fez se revirar na calçada. Mudou de posição e esticou as pernas, pensante. Entraria em casa e teria a certeza de que ficaria, enfim, sozinha? Ou ficaria ali, esperando, se alimentando de uma esperança tênue? "Ele prometeu", disse ela, acalentando a si mesma. "Ele prometeu".

the lights are shining bright!

Ela esperou a noite inteira. A madrugada inteira. A manhã do dia seguinte inteira. E reviveu tudo de novo. A brisa de outono, o sol forte, o medo, o sol descendo por entre as árvores, o escuro, a lua, as dúvidas, a solidão. E, quando a esperança parecia querer se esvair para sempre, ela viu. Enxergou, de relance, um rapaz alto e bonito que andava sem rumo, lá do outro lado da rua."É ele", pensou ela. Levantou rápido. Não conseguia mais sorrir. Só um sentimento tomava conta dela, e este sentimento, com certeza, não era a felicidade. Tampouco o medo. Ela havia se enchido de fé. E foi até ele, serena, segura.

Ele parecia murmurar algumas palavrinhas doces, mas sem sentido algum. Não percebeu que a menina com que sonhou durante tanto tempo estava quase o abraçando agora. Ela se aproximou, com uma suavidade que, sabiam os dois, não era dela. Não era suave. Mas estava. Estava como se sempre soubesse como ser suave. E o abraçou por trás, recostando sua cabeça no ombro dele. Sem se mexer, sem ao menos vê-la, ele soube que era ela. Fechou os olhos e sentiu. Não havia necessidade de olhar, de falar, de pensar. Só era preciso sentir. E eles se sentiram. Não fisicamente, mas espiritualmente. Sentiram suas almas se tocarem, sorrirem e se abraçarem. Seus corpos eram meros espectadores do espetáculo maravilhoso que acontecia dentro deles, fora deles, em todo o lugar. O mundo não existia mais. Naquele dia, naquela cidade, só havia uma pessoa: uma metade cheia de fé, outra metade cheia de luz.

2 comentários:

Fernanda disse...

o que esta acontecendo com você? esse texto foi o melhor de todos os tempos. hehehe. nhannn :*

Elton Rosa disse...

Ingrid, esse texto é teu, ou é um trecho de um livro? Caralho! Se for teu, tu escreve bem pra caramba, véi! Adorei! Se joga na literatura, cara! Tenta escrever um livro! =D